Em toda a minha vida não sabia que poderia haver uma modificação em meus sentimentos, aliás, nunca havia prestado atenção neles. Eu apenas reagia aos acontecimentos, às vezes com otimismo, às vezes negativamente.
Nunca também tinha pensado como as pessoas me viam. O que elas achavam de mim. Tentava agradá-las dizendo sempre sim a todas. Não sabia dizer não, isso não posso fazer. Eu tinha o hábito de oferecer, quase impondo, ajuda a quem nem sequer a queria, constrangendo a pessoa. Por quê? Há queria ser aceita por todos como sendo uma pessoa legal, boa.
Quem pode agradecer uma depressão que a leve ao fundo do poço emocional com ideias suicidas? Todavia, não querendo morrer, mas matar a dor da ansiedade, da angústia que a sufoca, do medo gerando pânico, desespero e que não consegue ficar ou ter paz em lugar algum?
Essa pessoa sou eu. Sofri muito. Não sei se existe céu, mas, inferno eu sei que existe, pois estive lá.
Quero agradecer a Companheira T., incansável na divulgação de N/A. Ouvi seu depoimento numa rádio e me identifiquei. Comecei a freqüentar o Grupo em Santana na Cidade de São Paulo.
No inicio, saber que havia outras pessoas que já tinham sofrido de depressão ou ainda a tinham, mas estavam melhores, me ajudou. Pensei: “Não estou só elas sabem como estou sofrendo.”
Com a prática do Programa os dois primeiros defeitos de caráter que percebi em mim foram o orgulho e a preguiça. Não que eu exaltasse meus valores ao contrário procurava me diminuir para que fosse digna de elogios. Dentro de mim havia muita controversa, uma hora me achava superior daí a pouco estava me sentindo inferior a tudo.
Tinha um conceito muito elevado de mim achando que tudo que eu fazia era notado, qualquer erro ficaria em evidência com todos sabendo e comentando. Um dia a ficha caiu: Levei um tombo na rua desses que são lembrados por muito tempo. Do outro lado da rua tinha um ponto de ônibus com muita gente ali esperando, fiquei constrangida, preocupada. Será que estão rindo de mim ou com pena? Duas coisas que não gostaria que sentissem. Porém, elas nem estavam me olhando, estavam preocupadas cada uma com seu ônibus. Nesse dia compreendi a extensão do meu orgulho.
Maltratei meus filhos com a minha preguiça. Limpava a casa, fazia comida e queria que tudo ficasse arrumadinho, limpo, não queria um copo de água na pia, não permitia nada fora do lugar ou de hora. Não sabia que me desgastava muito mais nesse sistema, pois ficava em estado de alerta todo o tempo para que tudo estivesse em seu lugar e limpo.
Lembro que estava numa confraternização de N/A e derrubei meu copo de refrigerante na toalha. Não me dei ao trabalho de levá-la para casa e lavar, coisa simples. Foi pior, porque a cobrança interior veio e percebi como a preguiça me dominava e maltratava.
Eu era uma pessoa vazia, não via sentido para a minha vida, se existia um Deus onde Ele estava? Cheguei a um ponto de achar que todos eram inimigos, inclusive Deus, portanto não confiava em ninguém nem nas pessoas da minha família. Sem Deus e sem relacionamento com as pessoas a solidão tomou conta. Isso é o inferno. Um inferno que eu mesma criei.
A depressão me levou a procurar ajuda. Conheci o N/A. Graças à Irmandade hoje minha vida tem sentido, consigo interagir com as pessoas. Creio e confio em Deus, e, que tudo que acontece tem sua razão como a minha depressão que hoje agradeço.
Anônima